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Hoje tem pagode no Rio de Janeiro
Fazer antes de se preparar
Começar a fazer antes de se preparar pra fazer
Tô bebendo, tô pagando
O mundo é redondo e não para de girar
Qualquer dia desses eu sei que vou vencer
Sair desse buraco que eu vivo
Eu sou assim, eu sou assim
Quem quiser gostar de mim
Só deus acima de mim
Mas ele está de costas, de costas
Hoje tem pagode no Rio de Janeiro
Hoje eu escapei, hoje eu sou, hoje eu não sou
Hoje eu sou a meia noite
Hoje tem pagode no Rio de Janeiro
Tudo está a mercê
Até você perceber que o ronco do vizinho na verdade vinha de você
É, hoje tem pagode no Rio de Janeiro
Eu até sou capaz de sair aí fazendo loucuras
Vamos ter um filho
Viver de tempo emprestado faz o ponteiro do relógio andar mais rápido
De algum modo, em algum lugar, alguma coisa deu errado.
Diz o meu teclado no celular.
Hoje tem pagode no Rio de Janeiro
Os deuses que amam também podem me odiar
Hoje tem pagode no Rio de Janeiro
O maior presente de Deus é a minha hipocrisia
Por que em meio de delírios transmutáveis
E o encontro de vênus e saturno
Em meio a rangos veganos e trampos bem humanos
Eu ainda me sinto mal?
Hoje tem pagode no Rio de Janeiro
Você se desconstrói na batucada
Mas não esqueça da empregada na sua casa
Quando tiver pagando de cria
Vê se não esquece que
O maior presente de deus te deu
Foi a hipocrisia
Se fazendo de pão pra ganhar linguiça
Tentando arrumar a bagunça que é sua cabeça
Procurando sexo pela noite
Melhor ser honesto consigo mesmo
Tem gente que prefere viver na própria merda
Do que deixar o mundo ver ele pegar uma pá
Melhor ser honesto consigo mesmo
E ver que perto do osso é sempre mais gostoso
Hoje tem pagode no Rio de Janeiro pra menino e pra menina
E quem não se identifica também
E logo mais pode ter certeza outra chacina
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A estupidez nunca dorme e pra combater, hoje eu não vou dormir, quando eu morrer eu descansarei
Uma pessoa deve admitir os seus próprios erros, tirar as pedras do caminho para poder crescer
Passeando pelas trincheiras, sentindo o odor verde das macieiras
O calor insípido das valas, eu vi mais do que eu queria ver
Mas numa festa em laranjeiras foi que eu concebi
Não adianta riqueza e educação se a pessoa não tem um pingo de noção
O Brasil é assim e assim vai ser até o fim, lindo, lindo e triste
Como se chamasse por alguém, como se esperasse por alguém, alguém que nunca vem
A gente vive ao redor de tanto idiota que às vezes
A gente se dá o direito de ser também um pouquinho
Mas é difícil ver o grande plano atrás de uma pilha de corpos
Pra cada porta que eu fechei uma nova se abriu?
É tanta coisa feita pra deixar a gente maluco que no final das contas
Nunca vai existir a quantidade pra deixar a gente são
Tendo de me lembrar constantemente que o ódio exagerado
Pode ser tão chato e destrutivo quanto a coisa que você mais odeia
O Brasil é assim e assim vai ser até o fim, lindo, lindo e triste
Como se chamasse por alguém, como se esperasse por alguém, alguém que nunca vem
Se nem a elite cultural do nosso país consegue pensar e olhar pra frente imagina o povo do meu interior
Por que eu defendo uma cidade que me quer mal? Por que eu defendo uma família que me quer mal?
Por que eu defendo um país que me quer mal? Amigos que me fazem mal
Eu vou lutar e brigar por toda minha vida, esse é meu destino
Quando eu morrer não será numa cama, mas eu estou em paz comigo mesmo
O Brasil é assim e assim vai ser até o fim, lindo, tão lindo, tão lindo e tão triste
Como se chamasse por alguém, como se esperasse por alguém, alguém que nunca vem
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Já nasceu um novo dia e agora?
O trabalho de ceder, a paciência pra querer
O que é mais fácil de buscar
E eu que sempre olhei pro alto
Será que os homens se cansaram
Não tem mais nada pra gente construir
Pela noite nós andamos descalços
A disciplina de botar os pés no lugar das mãos
Já não quero mais saltar janelas
Me cansei de voar, deixo os sonhos pelo chão
Que é mais fácil de buscar
E eu que sempre olhei pro alto
Depois que os monstros se deitaram
Eu não tive contra quem lutar
E não sei porque estou tão machucado
Mas eu não quero me entregar ainda
Na dor que deixa a gente mudo
No berço da felicidade
Nada é em vão, no beijo de um peão, entre os dedos da mão
Escapa a solidão da minha cidade
Já nasceu um novo dia e agora?
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Eu que achei que a coragem, o espírito livre
E a imaginação eram o orgulho da humanidade, onde eu estava com a cabeça?
Fingindo ser outro alguém pra te fazer feliz
Fingindo ser outro alguém até quando nos masturbamos, fingindo até pra gozar
Desista dos seus sonhos, arrume um emprego, financie um carro, ganhe mais um dinheiro Construa uma casa, constitua família, faça igual fulano de tal
Eu comia a coisa mais deliciosa que já comi
Enquanto eu sentia o cheiro mais podre que já senti
A gente segue as regras do universo o tempo todo sem nem saber
Nosso corpo é uma prisão independente de rebelião
O cidadão está preso dentro de um castelo de quatro paredes de velcro e não vê saída
Desista dos seus sonhos, arrume um emprego, compre mais um carro, ganhe mais um dinheiro
Financie uma casa, construa uma família, faça igual fulano de tal
Todo mestre é um escravo, a liberdade é a minha jaula
Eu carrego ela comigo aonde vou
A prisão do casamento, a prisão do sexo, a prisão do dinheiro
Queremos ser dominados, dominados por coisas, dominados por planos
A cada dia vivemos menos
A cada dia vivemos menos no dia de hoje
Mas a dominação nunca é total, ela te engana apenas em partes
Enquanto numa propícia escuridão nasce uma outra verdade
A cada dia vivemos menos
A cada dia vivemos menos no dia de hoje
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5. |
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A gente vive bocejando
Sei que muitas vezes pode ser um saco
Mas como deve ser bom ser realmente desejado
Eu queria ser o seu troféu
Sentir você me exibindo
Pro mundo como se eu fosse um pedacinho do céu
Saber que tem alguém perdendo o sono por mim
Ver alguém deixando de dormir pra conversar comigo
Eu queria ser o seu troféu
Sentir você me exibindo
A gente boceja por que?
Você coloca a mão em mim
Me toca
Me toca como você quer
Agora eu sou seu
Meus membros são seus
Você ou eu
Eu sou todo seu
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6. |
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As unhas crescidas encaixadas na pele, nos pólos
A mão no pescoço aperta mas não fere os rótulos
É como negar uma mão para uma oração
É difícil falar do nosso amor
Mas a gente pode tentar
A linguagem se torna realidade aqui, eu vi
A tristeza nunca impediu alguém de ser feliz, sim
É como negar uma mão para uma oração
O mundo existiu
O trem passou e você não viu
O mundo vai continuar existindo
Depois que o nosso amor morrer
O trem passou e você não viu
O mundo existiu
Hoje uma criança sorriu
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Meu único jeito de curar os outros
Parece ser maltratar as pessoas que eu mais gosto
Mas nos dias aqui eu sinto que eu aprendi
Que não dá pra salvar o mundo todo
Minha única resposta é e sempre foi a minha violência
Nunca pedir desculpas
Ininterrupto, nunca interrompido
Me machucaram tanto
Te machucaram tanto
Impenitente
A maldição da sinceridade
Desculpa se eu te fiz mal
Só precisa de ajuda quem pede ajuda?
Só precisa de ajuda quem pede ajuda?
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8. |
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Tem gente que gosta mais da folha exposta
Do que da palavra que eu vou dizer
Tudo bem, tem gente que preza, mas na própria reza
No fim dos tempos esquece quem é
A falácio do falso, o amarrado cadarço
O escancarado falso dilema
Traz a luz o que antes jazia escondido
Essa é a razão de tudo estar tão bagunçado e são?
Eu não, eu não sei
Duro um pouco mais? Posso tentar um pouco mais?
Mas já cansei de querer procurar o porquê
A falácio do falso, o amarrado cadarço
O escancarado falso dilema
Traz a luz o que antes jazia escondido
Queriam fazer a cidade mais bonita do mundo
A recompensa de uma grande ambição
É sempre auto destruição
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9. |
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O meu lugar é caminho de Ogum e Iansã
Lá tem samba até de manhã
Uma ginga em cada andar
O meu lugar
É cercado de luta e suor
Esperança num mundo melhor
E cerveja pra comemorar
O meu lugar
Tem seus mitos e seres de luz
É bem perto de Osvaldo Cruz
Cascadura, Vaz Lobo e Irajá
O meu lugar
É sorriso é paz e prazer
O seu nome é doce dizer
Madureira, lá laiá
Madureira, lá laiá
O meu lugar é caminho de Ogum e Iansã
Lá tem samba até de manhã
Uma ginga em cada andar
cada andar
O meu lugar
É cercado de luta e suor
Esperança num mundo melhor
E cerveja pra comemorar
O meu lugar
Tem seus mitos e seres de luz
É bem perto de Osvaldo Cruz
Cascadura, Vaz Lobo e Irajá
O meu lugar
É sorriso é paz e prazer
O seu nome é doce dizer
Madureira, lá laiá
Madureira, lá laiá
Ah lugar
A saudade me faz relembrar
Os amores que eu tive por lá
É difícil esquecer
Doce lugar
Que é eterno no meu coração
Que aos poetas traz inspiração
Pra cantar e escrever
Ai meu lugar
Quem não viu Tia Eulália dançar
Vó Maria o terreiro benzer
E ainda tem jongo à luz do luar
Ai que lugar
Tem mil coisas pra gente dizer
O difícil é saber terminar
Madureira, lá laiá
Madureira, lá laiá
Madureira
Em cada esquina um pagode num bar
Em Madureira
Império e Portela também são de lá
Em Madureira
E no Mercadão você pode comprar
Por uma pechincha você vai levar
Um dengo, um sonho pra quem quer sonhar
Em Madureira
E quem se habilita até pode chegar
Tem jogo de lona, caipira e bilhar
Buraco, sueca pro tempo passar
Em Madureira
E uma fezinha até posso fazer
No grupo dezena, centena e milhar
Pelos sete lados eu vou te cercar
Em Madureira
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10. |
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Limão siciliano, como as coisas se transformam
Limão siciliano, como as coisas se transformam
Enquanto eu te ensaboava caiu a chave
Na casa velha que o avô de alguém um dia construiu
Nós rimos e eu fui rearmar o disjuntor
Os lábios da manhã suspiram beijos quentes
Com gosto de nascer do sol
O toque dos seus dedos incendeia os corações
Limão siciliano, na verdade é da Índia
Limão siciliano, como as coisas se transformam
Enquanto eu trabalhava cantou-se a pedra
No porta sabonete na clavícula limada da parede
O meu nicho preferido ou talvez o mais querido
As curvas do seu dorso, a dureza do olhar
Incrível como o pecado e a sujeira
Podem ser segredos tão bonitos
Limão siciliano, como as coisas se transformam
Limão siciliano, como as coisas se transformam
Caiu a ficha
Enquanto você dormia
Ontem eu era eu
Hoje eu sou eu e você
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Segundo disco do projeto "Tréinquinumpára" do músico Vitor Brauer que tem como objetivo a gravação de um álbum em cada capital do país num espaço de dez anos. O disco do Rio de Janeiro possui participação dos artistas locais Bene (Tom Gangue), Gabriel Guerra (Séculos Apaixonados, Dorgas, Crusader de Deus), Felipe Pacheco Ventura e Gabriel Vaz (Baleia), deb (def), gorduratrans, Trash No Star, Cadu Tenório e Ynaiã Benthroldo (Boogarins).