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Geração Perdida de Minas Gerais
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Tr​é​inquinump​á​ra 01: Maceió

by Vitor Brauer

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1.
Todo dia a gente acorda, come, caga, banha, bebe e trabalha Todo dia a gente acorda, escova os dentes, passa desotorante e às vezes a navalha Parece próxima, parece tão próxima que parece ser mais fácil desistir Do consumir de toda essa batalha De desistir de todo essa desgraça Quantas milhões de vezes a gente já se viu nesse mesmo espelho Narizes tortos, bocas tortas, dente precisando de aparelho Até os olhos sucumbem ao sangue que já invade a íris sempre vermelho Do consumir de toda essa batalha De viver sempre à caça Como sair desse lugar que todo dia é correr contra o tempo De acordar de noite pensando Jesus vai ser assim todo momento Todo dia consciente que o tempo tá passando sem consentimento Todo dia ela faz tudo sempre igual Todo dia ela faz tudo sempre igual Do consumir de toda essa batalha Do suspirar dessa cachaça Agarrando pelos cabelos Os momentos que são bons A felicidade É tão passageira que a gente Pensa que todo dia que a gente vai trabalhar A gente tá trabalhando pra construir A gente tá investindo na gente mesmo A gente tá sonhando com alguma coisa A gente tá consumindo a gente mesmo pra construir O que mesmo que eu nem lembro mais Um dia qualquer já pode ser demais E a gente se multiplica feito coelhos Transando, trepando, fingindo que tá fazendo amor Sempre multiplicando o que tem de pior na gente mesmo Sempre fazendo, nos forçando, forçando os outros Invadindo o que não é nosso, destruindo o que não é nosso Destruindo a gente mesmo Por que eu nem me lembro mais Um dia qualquer já pode ser demais Todo dia a gente acorda e descobre o que não pode mais fazer Criando máscaras e não sendo a gente mesmo Sempre fazendo, nos forçando a ser o que não somos Enganando o cérebro que já tá pra lá de desgastado Pra não invadir o que é do outro, pra não destruir o que é do outro Destruindo a gente mesmo Por que eu nem me lembro mais Um dia qualquer já pode ser demais Agarrando com todas as proteínas Os resquícios de uma vida Que já não existe mais Porque quando a gente acorda, quando a gente acorda Sai com os amigos e se agarra até a última polegada de compreensão De empatia, de saber que talvez a gente não tá tão sozinho assim Mas na hora que o cara precisa duma ajuda some todo mundo e só aparece uns filho da puta que tão querendo se aproveitar Do que exatamente De qualquer coisa que seja um resquício Feito burros com nossas viseiras Inteligentes demais pro nosso bem Burros demais pro nosso bem Carregando trouxa de roupas, carregando malas pra lá e pra cá, carregando equipamento, carregando móvel, carregando livro, carregando compra Carregando carga feito animais de carga Será que a vida é só isso? Será que essa vida toda vai ser só isso? Mais uma história de melancolia escura que eu preciso consumir Pra me legitimizar, pra me confortar E me lembrar que nada do que eu penso é tão maluco assim Que a gente vive numa realidade sem sentido e violenta Com uma mente e um corpo que conspiram contra nós o tempo todo O que que a gente pode fazer? Me diz o que que a gente vai fazer? Me agarro no último suspiro Todo dia ela faz tudo sempre igual E se agarra no último suspiro Da memória do que ela foi Num tempo de alegria Que agora já passou Quando chove aqui Você olha e o tempo já mudou Agora, já passou Já passou Já passou Já passou
2.
Cansado de lidar com marmanjo Que devia tá fazendo terapia Um deles não consegue nem dizer Porque que ele se sente tão mal O outro não consegue nem ver Porque que ele se sente tão sozinho E então vocês ficam lamentando "Meu deus como o mundo é tão vazio" Sem perceber que o vazio tá aí dentro Sem perceber que o vazio é aí dentro Talvez é porque o mundo todo Tá cansado demais, tá cansado demais Cansado de lidar com marmanjo Que devia tá fazendo terapia Cansado de lidar com marmanjo Que devia tá fazendo terapia Um deles só namora com mulher Que ainda não passou dos 20 anos O outro não consegue nem tirar a roupa Se não for na hora que ele vai transar Não entende que não é aquele caso De ser só uma coisinha que é o seu jeitinho Não é porque você não gosta de azeitona Não é porque você não gosta de sorvete Sua namorada não é sua terapeuta Sua namorada não é sua terapeuta A moça vai na terapia Pra lidar com os traumas dela O moço vai na terapia Pra saber que não dá mais pra viver Achando que o mundo vai te aceitar Acho que nós vamos aceitar Cansado de lidar com marmanjo Que devia tá fazendo terapia Inutilidade não performada
3.
Cochicho 04:09
Me conte sua história Seu cheiro eu já conheço bem Coloque um cochicho Na minha memória Uma memória só pra mim Me conte sua história Os seus desejos Suas dores, seus amores Eu sinto tanta saudade Do começo de um amor Não vou dizer que não sou feliz Mas outro dia Eu andei pensando Em nós dois E até imaginando Mas isso é algo muito raro, muito raro, muito raro Na tarde da noite Os nossos únicos encontros Feitos para não durar Você dorme comigo mas só de vez em quando Você pensa em mim mas só de vez em quando Nós dois Quem sabe noutro mundo Na próxima vida Eu seria seu Você seria minha Quem sabe noutro tempo Espere por mim, morena Na próxima vida E se não voltássemos pra escola E se não voltássemos pra faculdade E se não voltássemos pro trabalho E se não voltássemos pra nossa vida
4.
O artista é um detetive ou não É um observador É conseguir ver além, pensar além Sentir além Ser artista é não ter medo ou não É um enxadrista Festa acabada, artistas a pé Ser artista é ser alguém comum Curiosamente o rock star Não era anjo ou perfeito Eu ouvi que até batia em mulher Artista é um bicho escroto Ser artista é fazer tudo mal feito Ser artista é fazer business Ser artista é ser político Ser artista é ser mais uma pessoa Um fingimento natimorto que não é verdade Quando acabar a inspiração Puxa uma caneta e escreve Uma canção metalinguística Sobre um artista que escreve sobre uma canção Nasce uma estrela O artista disse que pegou covid Pra não pegar o avião Pra tocar na cidade dele Será que ele tinha medo? Mas medo de quê? Todo mundo ama um artista Você é fã de quem? Todo mundo ama um artista Que é independente Mas independe de quê?
5.
Por que a gente faz isso tudo um com o outro? Por que a gente se machuca tanto? Por que a gente deixa de dizer Deixa de dizer até que é tarde demais? Fico sonhando feito um jovem Você me fez sentir de novo como sente um jovem Muita coisa na cabeça pra botar no papel Eu sei, eu sei, eu sei Eu consigo ser intenso demais, tenso demais Tudo nessa vida é quebra de expectativas Tudo nessa vida é feito de intrigas, de armadilhas Um sonho me traiu nessa vida que só você seguiu Você seguiu e eu aqui pregando o amor Viver uma farsa me deixou doente Dizer que eu não sinto sua falta me deixa doente Por que a gente pensa o que a gente pensa? Por que a gente sente o que a gente sente? Por que buscamos Jesus sempre com uma cruz? Já passou um tempo mas eu ainda sonho com você, por quê? Se tivesse como eu pegar e te deletar, te matar de novo Eu faria tudo de novo, eu juro que eu faria tudo de novo Cada palavra, uma mentira Cada gesto, uma traição Cada sorriso, uma careta Mas o que é verdade Quando o assunto é eu e você? Por que eu ainda sonho com você? Por que a gente se machuca?
6.
Tá chuvendo tem 24 horas Aqui não chove tem mais de um mês Eu não reclamaria se chuvesse Eu não reclamaria se parasse de chover O filme podia ter uma hora e quarenta O filme é muito curto O filme é muito longo Não existe biografia boa O Seedorf é molengão Filme de terror novo não é bom A comida tava morna o drink era meio fraco Faltou alguém passar um corretivo na foto Nenhuma banda boa durou mais que dez anos O show tava cheio demais, o show tava vazio demais A Pablo Vittar faz showzinho de pendrive Bom mesmo é o show do Jack White Barzinho bom é aquele que é sujo Esse aqui é limpinho demais Tem muita gente bem vestida E o som é profissional demais O homem só pode ser julgado por suas ações Não pode ser julgado por seus pensamentos Só se for de forma negativa O que você fez pra concretizar os seus sonhos É muito fácil criticar É muito fácil comentar Cadê seu livro que nunca vai sair Cadê seu disco que nunca vai sair Cadê seu filme que nunca vai sair Cadê seu valor
7.
Eu sou um filho sem sorte, que só nasci pra sofrer Vivo triste e abandonado, sofrendo sem merecer Pra mim não existe festa, uma vida feito esta É muito melhor morrer Eu sou um filho sem sorte, que só nasci pra sofrer Vivo triste e abandonado, sofrendo sem merecer Pra mim não existe festa, uma vida feito esta É muito melhor morrer Quando eu tinha quatro anos, minha mãe adoeceu Papai fez todos esforços, comprou remédio e lhe deu Pra minha infelicidade, eu fiquei na orfandade Não teve jeito e morreu Só ficou eu e papai, na maior lamentação Pra me ajudar a sofrer, não ficou nenhum irmão Fiquei sem prazer na vida, perdi minha mãe querida E me botaram na pensão Portanto, quem não tem mãe só nasce para sofrer Passa a noite sem dormir, passa o dia sem comer Sua caminha é um chão, e o seu consolo é um pão Quando acha quem lhe dê Os outros meninos passam por perto de mim, mangando Porque tem roupinhas novas, as minhas velhas, se rasgando Aumenta meu sofrer, mas se eu tivesse meus pais Não vivia assim, penando Se eu tivesse mamãe, não sofria tanto assim Eu só tenho quatro anos, meu Deus, que será de mim? Aumenta minha tristeza, parece que a natureza Está separada de mim De dia eu fico contente, à noite, eu sinto agonia À noitinha, eu vou deitar na terra molhada e fria E quando vou adornando, sonho mamãe me botando Em uma caminha macia Eu acordo e não vejo ela, aí começo a chamar Mas ela não me responde, volto pra o mesmo lugar De manhã procuro ela, depois acendo uma vela E aí começo a rezar Eu rezo para mamãe, pra o meu papai amado Porque sou pequenininho nesse mundo separado Agora vou terminar, peço pra não desprezarem Os filhinhos abandonados Agora vou terminar, peço pra não desprezarem Os filhinhos abandonados, ei
8.
Um dia eu tive um amigo Mas ele não existe mais Ele era um filho de apartamento E do alto dos nossos castelos Construídos com peças de lego Ele era o primeiro a gritar "Independência ou morte" Ele virou um homem da lei Que queria ver a derrota De perto, com os próprios olhos Um dia eu tive uma amiga Hoje não a vejo mais Ela era a madame da plebe No dia que nós nos beijamos Na ponte da ilha Não sentimos a mesma coisa “Nós não somos os mesmos” Ela virou uma dentista E fazia toda a gente sorrir Com a perfeição das suas mãos Com a perfeição dos seus olhos cinzentos Um dia eu tive um pai, um tio Mas ele não está mais aqui E quando nós discutimos Das pessoas que não conhecemos E sobre o que fazer “É loucura mas tem o seu método” E ainda existe o milagre do vinho E ainda existe o milagre das flores Do canteiro da vovó Passando na Fernandes Lima Vendo a cobertura do Collor Chorando pelos cinco bairros enterrados Com os fantasmas futuros que Rivalizam os da quebra de xangô Uma visão que é muito forte Mas ao mesmo tempo muito solta É o destino do vidro se quebrar É difícil depender de Maceió É difícil defender Maceió Eu passei minha vida inteira Na minha cidade Vendo carros indo e vindo Em uma pista só Mas não mais Engenho, que se foda de onde venho O importante é pra onde eu vou Certa vez, eu tive um irmão Mas ele não existe mais

about

Primeiro disco do projeto "Tréinquinumpára" do músico Vitor Brauer que tem como objetivo a gravação de um álbum em cada capital do país num espaço de dez anos. O disco de Maceió possui participação dos músicos locais Alcyr Vergetti, Caíque (o Jorg), Julia Soares, Smhir e da banda mãe que dá medo.

credits

released June 19, 2023

Produção, gravação, mixagem e masterização: Vitor Brauer
Capa: Ródney Arouca
Vídeos: Capitão Ahab
Créditos específicos de cada música favor olhar na página de cada música.

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about

Vitor Brauer Governador Valadares, Brazil

Um mineiro de Governador Valadares que é compositor, produtor, membro das bandas Desgraça, Ginge, Lencinho, Lupe de Lupe, Tristeza Não Tem Fim e Xóõ, e criador e integrante do movimento Geração Perdida de Minas Gerais.

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